Brasil, que país é esse?

 

 

 

A atual Constituição da República Federativa do Brasil (1988) traz ...

PREÂMBULO

 Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil.

 

 

Por seu turno, a versão digital do dicionário Miniaurélio assim define o brasileiro ...


Adjetivo.
1.Do, pertencente ou relativo ao Brasil.
Substantivo masculino.
2.O natural ou habitante do Brasil. [Sin. de 1 e 2: brasiliense, brasílico.]
3.Lus. Português que retorna rico do Brasil.

 

 

Tais palavras que definem o Brasil e o brasileiro na Constituição e no dicionário, entretanto, parecem não se concertarem, não combinam entre si, tampouco com a realidade brasileira. O legislador constituinte sonhou com um Brasil ("com valores supremos"), mas o dicionarista registrou outro Brasil (do oportunismo do "Português que retorna rico" a Portugal). O político preferiu constituir um país perfeito, traduzindo com idealismo quimérico o que o escrivão Pero Vaz de Caminha, com entusiasmo, relatou ao rei de Portugal, quando do descobrimento (por acaso) do Brasil: Nessa terra, em se plantando, tudo dá!

O Brasil não é um país sério, afirmou o embaixador brasileiro na França (ano de 1962), Carlos Alves de Souza - tal frase foi, equivocadamente (?), atribuída ao presidente francês Charles De Gaulle (https://pt.wikiquote.org/wiki/Brasil).

Essa falta de seriedade já começou no "descobrimento" por navegadores portugueses perdidos, capitaneados por Pedro Álvares Cabral. Eles procuravam chegar às Índias (orientais) e ... chegaram às (nossas) índias brasileiras.

 

A natureza bela e exuberante brasileira, desde a costa oceânica (7.491 quilômetros de extensão) e mar territorial (200 milhas, desde a costa) até o subsolo rico em minérios valiosos e pedras preciosas, uma flora e uma fauna diversas e variadas, clima e geologia favoráveis à ocupação humana e a todo tipo de atividade econômica, sem cataclismos e desastres naturais; e um povo de índole pacífica e hospitaleira, composto por múltiplas raças, com culturas próprias, mantidas e manifestadas livremente, com boa disposição para aceitar diferenças e a introdução de inovações de toda ordem, tudo, desde o descobrimento, parece indicar que o melhor lugar do mundo é aqui (trecho da música Aqui e Agora, de Gilberto Gil).

De fato, a natureza e a gente locais, desde as florestas e os índios até as mais altas autoridades, apenas a princípio parecem inacessíveis e inamistosos. Pois, basta que se insista adequadamente e tudo e todos se mostram acessíveis aos interessados. Assim ocorre, também, nos âmbitos social, econômico e político, onde todos se mostram abertos para receber novas ideias, novos projetos ou demandas. Com isso, o Brasil é campo fértil para os exploradores bem e mal intencionados, estes últimos os oportunistas de má índole, os enganadores e trapaceiros, enfim, para todos os desonestos que se apresentam com falsas e cínicas propostas ou promessas de desenvolvimento, progresso e benefício comunitário ou público.

A República foi proclamada, oficialmente, em 15 de novembro de 1889, no Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil, por um militar, o Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, como resultado de um levante político-militar concebido por membros da maçonaria. Portanto, a República do Brasil foi resultado de uma revolta (política), um motim (militar), vale dizer, um golpe de estado, que derrubou a monarquia parlamentarista, então existente, e destituiu o Imperador Dom Pedro II. Como forma de governo, foi instituída uma república presidencialista, cujos primeiros presidentes foram dois militares, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.

Em cerca de cento e trinta anos de existência, a República Federativa do Brasil foi conduzida de forma errática, voluntariosa, por não-estadistas militares e políticos, no geral, de moral e cultura baixas, com propósitos e comportamentos que visavam, quase sempre, interesses menores, próprios e de seus grupos patrocinadores, desde corporações militares até organismos politico-sindicais.

O interesse público é princípio fundamental (virtual) da Constituição da República do Brasil, pois visa à realização dos direitos fundamentais elencados nesta. Mas, tal interesse coletivo nacional é, não raro, o último a ser atendido, tanto pelas autoridades quanto pelos cidadãos comuns. Desde a natureza exuberante e variada até o povo, sempre ingênuo em sua espontânea alegria e vocação nata para a liberdade e a paz, tudo aqui é objeto de exploração, expropriação, desperdício e destruição.

O brasileiro, cada vez mais resignadamente, parece concordar com a sua imagem concebida fora das fronteiras nacionais de ser um povo pouco preocupado com valores elevados, tais como nobreza de caráter e honrada dignidade; mostrando-se incapaz de realizar o sonho almejado em sua bandeira: um lugar de ordem e progresso, com céu azul e estrelado, rico em água doce, vasto litoral atlântico, flora e fauna magníficas, bem ainda, com um subsolo de valiosos recursos minerais, da esmeralda ao petróleo e ao gás natural.

O povo brasileiro contentou-se em ser apenas um gigante pela própria natureza, deitado em berço esplêndido, conforme afirma o hino nacional do Brasil.

A democracia brasileira mostra-se frágil e instável. Os poderes da República, vez por outra, em lugar de se mostrarem harmônicos, se mostram conflitantes. O Poder Executivo perde poder de decisão diante do Poder Legislativo, enquanto o Poder Judiciário o obriga a agir ou se abster de agir com frequência cada vez maior. Tal ocorre devido desde a falta efetiva de critérios bem estabelecidos (por exemplo, adequada habilitação e boa reputação) para a escolha das autoridades até a falta de diálogo efetivamente republicano entre os representantes dos três Poderes.

Nos pleitos eleitorais de qualquer nível, nacional, regional ou local, frequentemente, elegem-se de forma desleixada, negligente e até inconsequente candidatos sabidamente despreparados, desonestos e até alguns multiprocessados por corrupção ou outros crimes. Candidatos já condenados em instâncias judiciárias inferiores, conseguem participar das eleições graças aos inúmeros e seguidos recursos às instâncias superiores da Justiça, que impedem sua condenação defitiva e o trânsito em julgado da respectiva sentença - em outubro de 2020, um senador da República, da base de apoio e vice-lider do governo no senado, e um dos responsáveis pela distribuição de recursos federais aos estados e municípios para combater a pandemia de Covid-19, foi flagrado pela polícia e pela controladoria federal com milhares de reais na CUECA. Acredite se puder!

Muitos eleitores brasileiros exercem seu direito fundamental de voto com ignorância, brincadeira ou ironia, acabando por eleger candidatos bizarros, demagogos ou oportunistas, tais como o macaco tião, o folclórico índio Juruna, o simplório palhaço Tiririca, líderes populares semi-analfabetos, sindicalistas ruidosos, religiosos de fé duvidosa, jogadores de futebol boêmios, artistas populares, locutores de rádio ou qualquer outro personagem famoso na mídia. As campanhas desses candidatos se fazem sem nenhum compromisso com a verdade de suas palavras ou com a efetiva realização de suas vãs promessas eleitorais.

 

O Brasil é um "país do outro mundo", maravilhoso, cujo único inimigo real parece ser, mesmo, o próprio povo; ou dito de outro modo, o inimigo do brasileiro é o próprio brasileiro. Quiçá, um dia, isso mude!